CONJUNÇÃO JÚPTER-SATURNO
- Lopes Adão Fula Muginga
- 23 de dez. de 2020
- 7 min de leitura
Conjunção
Uma conjunção ocorre quando dois ou mais astros atingem coordenadas celestes muito próximas,
parecendo cruzar-se no céu. Os corpos celestes envolvidos numa conjunção podem ser: Sol, Lua,
planetas, estrelas e satélites artificiais. As conjunções são fenómenos relativamente frequentes e
podem mesmo ter uma periodicidade mensal, como é o caso da conjunção que se dá entre o Sol e
a Lua em cada Lua Nova, mas de uma maneira geral o período é um intervalo de tempo mais
alargado.
A astronomia tem uma definição precisa para conjunção de corpos celestes, que não se resume
ao “estar próximo” no céu, mas tem a ver com o sistema de coordenadas celestes adoptado. Por
exemplo, se o sistema de coordenadas adoptado for o Eclíptico, o plano de referência é o plano
da órbita da Terra ao redor do Sol. Assim, qualquer objecto celeste pode ser localizado pelas
coordenadas latitude eclíptica e longitude eclíptica, e por definição uma conjunção ocorre
quando dois ou mais corpos têm a mesma longitude eclíptica. Essa definição técnica é
interessante, pois evita uma definição vaga de conjunção, baseada em proximidade: afinal, se a
condição necessária for simplesmente a proximidade de dois corpos no céu, qual seria a distância
máxima para o evento ainda ser chamado de conjunção?
Uma conjunção muito importante é a Sol-Marte. Nessas ocasiões, que ocorrem a cada 26 meses,
o planeta vermelho fica praticamente atrás do Sol do ponto de vista da Terra. Nessa geometria
celeste, além de não podermos observar Marte no céu, as comunicações com as sondas em solo
marciano são reduzidas, ou até mesmo, interrompidas. A razão é que por conta do alinhamento,
as comunicações de rádio são perturbadas pelo Sol, e mensagens distorcidas devem ser evitadas
a todo custo, para preservar os equipamentos. Então nem sempre uma aglomeração de astros no
céu é de fato uma conjunção, vai depender da coordenada eclíptica.
Em 1986, Roger Sinnott, astrónomo e colaborador da Sky and Telescope, escreveu o artigo
Computing the Star of Betlehem, que relacionava a Estrela de Belém com uma conjunção entre
Júpiter e Vénus que ocorreu no ano 2 A.C. Na realidade, esta conjunção deve ter sido
espectacular, uma vez que o disco de Vénus chegou a ocultar parcialmente o de Júpiter e, durante
algum tempo, terá parecido que os dois astros se estavam a fundir num só. Tudo isto aconteceu
na constelação do Leão que, segundo algumas interpretações, estaria relacionada com o povo da
Judeia pela seguinte passagem do Génesis (49:9):
Judá é um leãozinho, da presa subiste, filho meu; encurva-se, e deita-se como um leão, e como
um leão velho; quem o despertará?

Figura 1: Conjunção entre Júpiter e Venus a 19 de Fevereiro de 1999. Cortesia: NIAC – Núcleo de Investigação em astronomia . cascais
Esta teoria levanta o problema de Jesus ter nascido depois do ano que tem sido adoptado para a
morte de Herodes, o ano 4 A.C.
Existem alguns estudos que pretendem dar a volta a este obstáculo, argumentando que houve
uma confusão na edição de 1544 do Antiguidades, de Flavius Josephus, o que terá levado os
investigadores a fazerem o cálculo errado para o ano da morte de Herodes. Segundo os autores
dos estudos, qualquer manuscrito de Josephus anterior a 1544 aponta para que Herodes tenha
morrido no ano 1 A.C.
Este ponto de vista é também defendido pelo teólogo Ernest L. Martin, no seu livro The Star that
Astonished the World, 1996. No entanto, Martin apresenta uma teoria mais complexa que
associa mais do que um fenómeno. A 11 de Setembro (dia que marca o início do ano hebraico)
de 3 A.C., Júpiter, o planeta rei, entrou em conjunção com a estrela Régulo (pequeno rei), a mais
brilhante da constelação do Leão. O Sol estava na constelação da Virgem. Temos, pois, dois reis
que se encontram quando a Virgem é protegida pelo Sol, uma conjugação de factores que
certamente não deixaria indiferentes os Magos do Oriente e que Martin considera ter sido o sinal
que os levou a partir. O 11 de Setembro foi, segundo ele, a data do nascimento de Jesus Cristo
(Mateus 2:1,2,3). Além do mais esta conjunção foi tripla, isto é, Júpiter entrou em movimento
retrógrado e depois prosseguiu o seu movimento natural, o que o levou a cruzar-se três vezes
com Régulo. Um dos pontos estacionários de Júpiter aconteceu a 25 de Dezembro do ano 2 A.C.
e teve a duração de uma semana, período que Martin sugere para a chegada dos magos a Belém.
Estes e outros relatos muito discutidos no campo da Astronomia e Astrologia tornam as
conjunções num assunto interessante, esperado e muito calculado no seio científico. Este artigo
apresenta factos sobre a conjunção Júpiter – Saturno, que de interesse começa pela curiosa data
da sua maior aproximação, 21 de Dezembro ( fim do Equinócio Vernal início do Solstício de
Verão, Lua em Quarto Crescente e dia de “Periélio” maior proximidade entre a Terra e o Sol).
21 de Dezembro de 2020
O final do ano reserva um fenómeno astronómico marcante para a noite do dia 21 de Dezembro,
quando os dois maiores planetas do Sistema Solar estarão muito próximos no céu, durante o
fenómeno da conjunção. Trata-se de um “presente de natal” antecipado para os amantes da
Astronomia. Os planetas Júpiter e Saturno estarão tão próximos que parecerão formar um
“planeta duplo”.
A conjunção Júpiter-Saturno (eclíptica) deste ano ocorrerá por voltas das 15h20min,
praticamente na mesma hora da máxima aproximação. Mas deixemos esse detalhe técnico para
os técnicos, afinal a beleza do fenómeno não se altera com essa informação. E não há motivos
para se preocupar com o horário, pois como veremos mais a frente, os planetas são muito lentos
e não fará muita diferença observar o evento algumas horas depois, ao anoitecer.
As conjunções Júpiter-Saturno são bem impressionantes, pois os planetas se destacam no céu
pelos seus brilhos intensos. Uma vez a cada 20 anos, os dois maiores planetas do Sistema Solar
parecem se encontrar no céu do ponto de vista do observador na Terra. Durante a próxima
conjunção (21 de Dezembro de 2020) Júpiter-Saturno, os planetas parecerão estar se tocando.
Mas não se iluda, a proximidade é um efeito de perspectiva, e será apenas aparente. Na verdade
eles estarão afastados entre si mais 700 milhões de quilómetros!
Mas qual o motivo do intervalo de 20 anos? Júpiter e Saturno são planetas bem distantes do Sol e,
portanto, se movem bem lentamente no céu: enquanto a Terra leva um ano para completar uma
volta ao redor do Sol, Júpiter precisa de cerca de 12 anos e Saturno cerca de 30 anos. Tais órbitas
longas fazem com que, do ponto de vista da Terra, encontros entre os dois só sejam possíveis a
cada 20 anos. É como se fosse uma corrida de Fórmula 1 e Júpiter, por estar mais próximo do
Sol e, portanto mais rápido, desse uma volta em Saturno a cada 20 anos.
Na maioria das conjunções a separação entre Júpiter e Saturno é de cerca de 1 grau, o que
corresponde a aproximadamente duas Luas Cheias lado a lado. Neste ano eles estarão separados
por apenas 6 minutos de arco, ou 1/10 do grau. Isso corresponde a apenas 1/5 do tamanho da Lua.
Será fácil acompanhar a bela dança do par de planetas até o seu ápice por ocasião da conjunção.
Basta olhar para a direcção do poente, logo após o pôr do Sol, nas próximas noites. Como os
planetas estarão próximos do horizonte, teremos cerca de uma hora para observar antes do
desaparecimento no horizonte, e lugares com montanhas ou prédios devem ser evitados. Na noite
do dia 16 de Dezembro, a Lua Crescente estará próxima aos dois, numa bela configuração.
A conjunção anterior entre Júpiter e Saturno ocorreu no ano 2000, mas foi um desastre para o
observador: além de os planetas estarem mais afastados entre si (cerca de 2,5 vezes o diâmetro
da Lua), a observação era quase impossível pois o Sol se encontrava nas proximidades.
A última conjunção Júpiter-Saturno com proximidade entre os planetas similar à de 2020,
ocorreu em 1623, alguns anos após as primeiras observações telescópicas de Galileu Galilei. No
entanto, mais uma vez o Sol estava próximo, impedindo a observação do fenómeno.
A mais espectacular conjunção dos planetas gigantes nos últimos 1.000 anos ocorreu em 1226,
quando os planetas estiveram 3 vezes mais próximos entre si do que no evento de 2020. Isso
ocorreu quase 400 anos antes do surgimento do telescópio.
Nas conjunções que ocorrerão em 2040 e 2060, as separações entre os planetas serão bem
maiores. Somente em 2080 teremos uma conjunção tão espectacular quanto a deste ano, com
uma separação similar entre os planetas. Ou seja, o evento do dia 21 de Dezembro de 2020 será
único para a maioria de nós.
Embora a máxima aproximação aparente entre os dois, ocorra no dia 21, a conjunção poderá ser
apreciada entre os dias 19 e 23 de Dezembro. Para observar esta linda conjunção, basta procurar
na direção de onde o Sol se põe, entre 19:00 e 20:15. O astro mais brilhante da região será o
planeta Júpiter. Saturno, menos brilhante, estará coladinho e acima (até o dia 20) ou abaixo (a
partir do dia 21).

Figura 2: Aproximação de Júpiter e Saturno.
A figura seguinte deste artigo retrata uma simulação feita da conjunção, em cima de imagens
reais tomadas no passado, mostrando como veremos esta conjunção a olho nu, no dia 21 de
Dezembro.

Figura 1 – Simulação, a partir de imagens reais, mostrando como ficará o aspecto da conjunção Júpiter-Saturno, no início da noite de 21 de Dezembro de 2020, Gabriel Rodrigues Hickel (2020).
A imagem à esquerda é real, de uma tomada feita da Lua, em fino crescente. A simulação da
direita foi efetuada em cima da imagem da esquerda e de outras duas imagens, de Júpiter e
Saturno, em condições simulares. A partir de três imagens, fez-se uma montagem que mostra o
aspecto “real” vista a olho nu, na segunda-feira, por volta das 19:00.
A segunda figura a seguir mostra uma simulação da conjunção, em cima de imagens reais
tomadas no passado, mostrando como ela será vista com um pequeno telescópio.

Figura 2 – Simulação, a partir de imagens reais de Júpiter e Saturno, tomadas ao telescópio; mostrando como ficará
o aspecto da conjunção Júpiter-Saturno, às 19:00 do dia 21 de Dezembro de 2020; Gabriel Rodrigues Hickel (2020).
Esta visão mostra um campo da ordem de 8 minutos de arco, com uma ampliação
em torno de 50 vezes. Dependendo das condições do céu, os satélites de ambos os
planetas também serão visíveis.
A terceira figura assinala os satélites dos dois planetas, bem como uma estrela intrusa, que
também estarão no campo.

Figura 3 – O mesmo que a Figura 2, mas com os astros identificados. O satélite Calisto, de Júpiter, não aparece na
imagem, estando mais para cima. Como a conjunção ocorrerá em baixa altura, o nível de detalhes observados
dependerá muito das condições do céu ; Gabriel Rodrigues Hickel (2020).

Sobre o Autor:
Lopes Adão Fula Muginga
Nasceu em Luanda (Sambizanga), licenciado em Engenharia Geográfica (UAN), é pesquisador e apaixonado por Astronomia desde o tempo da faculdade, ciência que procura dedicar tempo por paixão.
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